Sentia-se destruída, marreca, possessa, com vontade de dar um pontapé na cadeira, por ter sido delicadamente convidada, ou examinada, pelo Farmacêutico a falar de coisas, em que ambos estamos profissionalmente envolvidos: os medicamentos, a sua composição química e biológica. Terreno arenoso, mas lá fui abrindo a comunicação procurando partilhar ou dar uma ideia do meu pequenino conhecimento...
Não quis prosseguir o diálogo, nem de Assunto Específico de Farmácia. Deu-me uma branca e comecei a chorar. É que não me lembrava que havia um Específico Farmácia - apenas o terror do quimíco-biológico estava presente no meu cérebro.
Foi pouco profícua a minha tarde na biblioteca. Dirigi-me de novo à Farmácia.
- O Farmacêutico não está. Agora só segunda-feira, da parte da tarde!
Eu se calhar sou uma pessoa carente. E bloqueio muito. Não me sinto à vontade com o espaço cerebral que me cabe, nem consigo discorrer como as cerejas que se desenrrolam com a conversa. O que aprendi com os meus vintes,trintas e quarentas foi a estar calada. Marca indelével que adquiri e p'la qual fui marcada p'lo macho que domina a minha família, na posição de companheiro da minha irmã mais velha. O que vale é que eu não lhe falo, e recuso determinantemente reuniões de Família.
Recuperei o meu nome, recuperei a minha solitária vida. Pena é que a minha irmã mais velha venha p'ra mim com costumes daquele abutre. Se algum dia eu conseguir quebrar aquela cadeia, é p'ra nunca mais, que já lá vão vinte anos neste penadouro.